Possível corte de juros em breve tem gerado mais discussões sobre o Banco Central começar este ciclo de corte, tendo em vista a nova regra fiscal, inflação controlada, clima político favorável e cenário externo estável
Desde a formalização da nova regra fiscal na última semana de março, uma série de eventos tem possibilitado a discussão sobre o Banco Central começar o ciclo de corte da taxa Selic. Além disso, já é possível observar cortes implícitos na própria curva futura de juros: um de 25 pontos base no Comitê de Política Monetária (Copom) de junho, seguido pelo mesmo ritmo de corte na reunião de agosto.
Vale lembrar que com a Selic fixada em 13,75%, a poupança superava fundos com taxa de administração elevada, comentou à época Luciano Mestrich, empresário do ramo financeiro.
Corte de juros em breve
Apesar da prioridade ser o novo arcabouço fiscal, o corte de juros em breve pode se inserir na apresentação dentro do cronograma. Além da forma como foi estruturado, ao minimizarem aquela nuvem negativa de risco fiscal, especialmente o risco de descontinuidade.
Ao lembrarmos de que poderíamos ter um quadro sem limite de gastos, a nova regra fiscal reduziu o risco de explosão da dívida, à medida que ela é evitável se forem mantidas alguma consistência de crescimento da economia.
Inflação
Contudo, a inflação também está ajudando. Isso porque o vemos hoje é um cenário mais benigno para o IPCA, com núcleos comportados e uma desaceleração mais forte em alimentos e bens industriais. Soma-se a tudo isso também o alívio nos preços internacionais de commodities agrícolas e industriais, assim como a normalização das cadeias logísticas e de produção. Todas elas têm sido fundamentais para essa história. Além disso, os preços no atacado (IGP-M) estão mais tranquilos, com preços agrícolas inclusive rodando em deflação no acumulado em 12 meses.
Por outro lado, o crédito mais apertado tem freado e preocupado o ritmo da atividade econômica. As concessões de crédito estão desacelerando, a inadimplência está em níveis elevados e várias empresas de pequeno porte estão entrando com pedido de recuperação judicial, o que traz um cenário desafiador. Porém, vale lembrar que o Banco Central já incorporou em seu balanço de riscos essas preocupações com o crédito na economia.
E na política?
Do ponto de vista político, é relevante o posicionamento do presidente Lula em relação ao trabalho que Fernando Haddad tem feito como ministro da fazenda, principalmente no novo arcabouço fiscal. Elogios e o endosso do esforço do ministro trazem de volta o Lula pragmático, pelo menos em relação à questão fiscal.
Entretanto, na mesma direção, o clima tenso entre governo e Banco Central esfriou, as críticas estão mais amenas. Até mesmo o presidente da Câmara, Arthur Lira, mostrou-se disposto a ajudar no “meio-campo” entre Lula e Campos Neto.
Aperto monetário
Já do lado externo, o aperto monetário nos Estados Unidos parece não ir tão longe. Os últimos sinais da economia americana indicam uma economia mais fraca pela frente. Episódios no setor bancário exigiram ação do Federal Reserve (Fed) na liquidez e garantia de depósitos, aliviando as condições financeiras e colocando um alerta no setor de crédito. Indicadores de atividade ligados à manufatura e serviços mostram desaceleração, e a inflação parou de surpreender para cima, com uma composição positiva de arrefecimento do grupo de serviços e aluguéis. Além disso, o mercado de trabalho sinaliza uma tendência de diminuição na oferta de vagas.
Descompressão dos ativos brasileiros
O somatório de todos esses fatores tem ajudado na descompressão dos ativos brasileiros. Antes da semana de divulgação do arcabouço, o Ibovespa saiu de um piso de 98 mil pontos e agora está na casa dos 108 mil pontos. A taxa de câmbio teve forte apreciação, passando de R$ 5,29 para R$ 4,93, e a curva de juros fechou em torno de 90-100 pontos base. A reprecificação dos ativos é um movimento de retirada do risco de um grande estresse na dívida pública brasileira, que estava embutido nos preços.
Por fim, agora é preciso identificar as expectativas de inflação se acalmarem para termos, de fato, o ambiente ideal para o nosso Banco Central iniciar um gradual afrouxamento monetário.
*Foto: Reprodução/Unsplash (Tech Daily)