Com Selic fixada em 13,75%, a poupança supera fundos com taxa de administração elevada comenta Luciano Mestrich
No primeiro dia de fevereiro, o Banco Central (BC) anunciou que a renda fixa continua como uma boa opção de investimento por conta da manutenção da taxa básica de juros Selic em 13,75%.
O rendimento de baixo risco no título público Tesouro Selic é de 4,90% ao ano, segundo levantamento do buscador de investimentos Yubb. Vale destacar que aqui já está considerado o retorno real descontado pela inflação de 5,74%, estimada pelos economistas consultados pelo BC no relatório Focus.
Impacto da Selic a 13,75%
Com a taxa básica de juros ainda em 13,75% ao ano, as aplicações em renda fixa, como os fundos de investimento, são mais atrativas e ganham da poupança na maioria das vezes. É o que revela Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade).
Apesar disso, as cadernetas de poupança seguem como bom investimento como fundos de renda fixa, só que com taxas de administração superiores a 2,50% ao ano. Neste caso, Oliveira explica que a Selic atual faz com que a poupança perca para os fundos com taxas de administração inferiores a 2,50% ao ano.
Poupança
Contudo, por lei, a poupança possui ganho garantido de TR mais de 6,17% ao ano quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, como atualmente. Mas, a poupança é isenta de Imposto de Renda. E os fundos são tributados com alíquotas de 15% a 22,5% (quanto menor o prazo da aplicação, maior o imposto).
Na prática, siga este exemplo: em uma aplicação de R$ 10 mil pelo prazo de 12 meses, a poupança renderá R$ 770 – 7,70% ao ano.
Em um fundo com taxa de administração de 0,50% ao ano, o ganho é de R$ 1.043 (10,43% ao ano). Já com a taxa de 1,50% ao ano, o valor cai para R$ 925 (9,25% ao ano), e assim por diante.
No entanto, entre as taxas de 2,50% e 3% a variação é pouca. Isso porque o primeiro configura um ganho R$ 796 (7,96% ao ano). E o segundo fica abaixo da poupança, em R$ 744 (7,44% ao ano), segundo cálculo da Anefac.
Segundo Luciano Mestrich, empresário do ramo financeiro, a poupança também sente na mudança da Selic já que a rentabilidade está ligada à Selic. Porém, é importante ficar atento pois ela pode não subir junto com a taxa.
Investimento mais popular entre os brasileiros
Considerado o investimento mais popular entre os brasileiros, a poupança conta com um rendimento de 6,17% ao ano. Além disso, ela deve entregar um retorno descontada a inflação de 0,41% em 2022, afirma levantamento.
Todavia, apesar de ter voltado a entregar rentabilidade real positiva após completar dois anos no campo negativo, planejadores financeiros apontaram que o retorno da aplicação é menos da metade do entregue pela Selic.
CDB
Mas, ao considerar uma aplicação em CDB, também tributada pelo IR, o investidor teria que ter uma taxa de juros em torno de 85% do CDI para alcançar o mesmo ganho obtido pela poupança, diz o executivo.
o retorno real dos CDBs é calculado de 2,32% a 6,45%, dependendo do percentual do CDI pago nessas aplicações, que costuma ser maior nos bancos de menor porte.
LCAs e LCIs
No caso dos títulos privados: LCAs (Letras de Crédito Agrícola), as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e as debêntures incentivadas, que também possuem isenção tributária, elas se destacam no levantamento do Yubb, com retornos estimados de 7,22%, 7,61% e 9,29%, respectivamente.
Curto prazo – quais os riscos?
Um relatório elaborado pela equipe econômica da XP encara como provável a manutenção da Selic no atual cenário nas próximas três reuniões do Copom, em março, maio e junho. Sendo assim, se este patamar se concretizar, não haverá mudanças relevantes nos ativos de renda fixa, revela o relatório.
“Continuamos com visão positiva para a renda fixa de maneira geral, visto que as taxas de juros permanecem elevadas e o IPCA continua a ser um tema de monitoramento. Recomenda-se, no entanto, cautela, uma vez que os riscos relacionados ao cenário fiscal têm tornado mais alta a volatilidade dos títulos.”
Títulos do governo
Por outro lado, alguns títulos do governo sofreram impacto por conta da alta dos juros futuros, segundo informações do Tesouro Direto. No caso, a maior parte dos papéis prefixados ou indexados à inflação com prazo de vencimento superior a seis anos apresenta rentabilidade negativa no ano. Entretanto, investidores que carregam a aplicação até seu vencimento, sempre garantem um resultado positivo. Ou seja, aquele contratado no momento da compra do título.
Luciano Mestrich comenta que a renda fixa mantém vantagem com a Selic a este patamar.
Posicionamento do presidente Lula
Na segunda-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a posse de Aloizio Mercadante, como presidente do (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) BNDES, afirmou que não há justificativa para Selic estar em 13,75% ao ano.
“É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que deram para a sociedade brasileira.”
Lula ressaltou também:
“Como é que vou pedir para o Josué [Gomes, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp] fazer com que os empresários ligados a Fiesp vão investir, se eles não conseguem tomar dinheiro emprestado.”
Por fim, o presidente da República disse que a questão não se resume ao fato de o Banco Central ser independente.
“Agora resolveu tudo. O Banco Central é independente e não vai mais ter problema de juro. Ledo engano. O problema não é de um banco independente ou ligado ao governo. O problema é que este país tem uma cultura de viver com juros altos, que não combina com a necessidade de crescimento que nós temos.”
Luciano Mestrich Motta possui 28 anos de carreira profissional em Consultoria de Finanças e Controladoria. Além de ter estado à frente da diretoria financeira de grandes corporações.