Eletrobras é privatizada e entra para top 10 da Bolsa de valores, mas valor total da empresa passou despercebido pelo mercado por conta do modelo utilizado para venda
Finalmente a Eletrobras foi privatizada e se tornou um marco histórico para o Brasil. Tanto pela desestatização, como pelo modelo, que pulverizou o controle da empresa na bolsa.
Eletrobras é privatizada
A Eletrobras é privatizada após uma aprovação tardia, que aconteceu apenas em fevereiro deste ano. Já a venda foi pelo valor de praticamente R$ 100 bilhões (R$ 96,6 bilhões). Entretanto, o cálculo é um pouco diferente do tradicional de uma de desestatização, por conta do modelo adotado.
Sendo assim, o valor integral passou praticamente despercebido. Isso porque a União Federal deixou de ser controladora da empresa. Embora o BNDES tenha vendido ações na oferta global, a perda do controle se deu principalmente pela diluição da participação do governo com a emissão de novas ações.
Mais de 40% do capital social da companhia
O resultado da transação foi que, agora, o governo terá pouco mais de 40% do capital social da companhia. Apesar da demora, a negociação saiu do papel, pois ninguém mais acreditava que fosse possível. Mas a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) liberou o negócio e o prospecto da oferta foi publicado em seguida.
Valor da privatização
Contudo, o valor da privatização é o equivalente ao novo capital social da companhia. Ou seja, à nova quantidade total de ações multiplicado por R$ 42,00. Esse foi o preço que os investidores consentiram em investir no negócio. A demanda total, nesse valor, corresponde a duas vezes o livro, em um dos ambientes mais desafiadores para o mercado de ações desde o 11 de setembro de 2001.
Características
Todavia, as características da companhia ajudaram a demanda a aparecer. Neste caso, um negócio com grande ativo fixo, geração de caixa previsível e potencial de melhoria operacional muito significativo nas mãos da iniciativa privada.
Do valor total da oferta, de R$ 33,6 bilhões, mais de R$ 30 bilhões vão reforçar o caixa da companhia. Isso ao considerar a oferta base e mais o greenshoe. O BTG Pactual foi o coordenador líder da transação.
De tudo que foi vendido, o investidor individual, de varejo, assumiu R$ 9 bilhões, ou 27%. Desse valor, R$ 6 bilhões foram recursos do FGTS colocados na empresa e o restante, por meio de participação direta adquirida por meio de corretoras.
Já o novo valor de mercado — se sustentado — coloca a Eletrobras entre as 10 empresas mais valiosas da bolsa brasileira. Sendo assim, ela supera companhias como B3, Suzano, JBS e Itaúsa. O tamanho da Eletrobras em relação à segunda maior empresa de energia listada na bolsa, a Engie Brasil, aumentou de duas para três vezes.
1º trimestre de 2022
Em relação aos três primeiros meses de 2022, a companhia obteve receita líquida de R$ 9,1 bilhões, 12% acima de igual período de 2021. O lucro líquido passou de R$ 1,6 bilhão para R$ 2,7 bilhões nessa mesma comparação. A capitalização vai reforçar o balanço do negócio de modo significativo, pois no fim de março a dívida líquida estava em R$ 20,5 bilhões — o caixa estava pouco acima de R$ 15,5 bilhões. Portanto, com os recursos novos, a liquidez da companhia mais do que dobra, considerando o ingresso líquido de capital.
Antes da Eletrobras, a BR Distribuidora, hoje Vibra Energia, também foi privatizada via oferta pública de ações. No entanto, essa é a primeira vez que a União adota esse modelo.
*Foto: Reprodução