Taxa Selic proposto pelo Banco Central é referência para outras taxas, que afetam consumo, inflação e investimentos
Atualmente, a taxa de juros acima de 13% afeta cada vez mais a economia do ponto de vista de diversos aspectos. Além disso, a taxa Selic é alvo de críticas constantes do governo federal, de economistas e de boa parte do mercado e empresários. E também encarece o custo do dinheiro, o que engloba: empréstimos, reajustes de contratos e aplicações (como a poupança).
Taxa Selic atual
Diante deste cenário, as apostas do mercado indicam manutenção ou pequeno recuo na taxa Selic, mas não em um corte mais profundo. A seguir, entenda mais um pouco sobre a taxa básica de juros e o que ela afeta.
Taxa Referencial
A TR é calculada pelo Banco Central a partir dos juros das Letras do Tesouro Nacional (LTN), que variam seguindo a Selic. Esta taxa é usada como indexador para a correção das aplicações da caderneta de poupança, das prestações dos empréstimos do Sistema Financeiro da Habitação e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). No caso do FGTS, a correção do saldo é a TR mais 3%. E nos empréstimos para a compra da casa própria, a taxa corrige as prestações.
Poupança
Segundo a legislação, quanto a Selic é igual ou inferior a 8,5% ao ano, a remuneração dos depósitos de poupança é composta pela TR mais 70% da taxa Selic mensal. Porém, com a Selic acima de 8,5% ao ano, a poupança volta a render TR mais 0,5% ao mês (6,17% ao ano). Uma aplicação no valor de R$ 10 mil pelo prazo de 12 meses, o investidor acumula rendimento de R$ 680, totalizando R$ 10.680 ao final desse período.
Investimentos em renda fixa
Já no caso do títulos públicos, CDBs, CDIs, letras de crédito (LCIs, LCAs), debêntures e outros tipos de títulos privados pós-fixados, todas essas modalidades de investimentos, classificadas como renda fixa, são sempre favorecidas pela Selic alta. É o que afirma Luciano Mestrich, empresário do ramo financeiro. E há ainda investimentos atrelados à inflação que possuem uma relação indireta com a Selic.
Inflação
Todavia, apesar do aumento do rendimento, a poupança ainda perde para a inflação. E não é só a poupança que perde para a inflação. A Selic é utilizada para conter a inflação, pois o BC julga que encarecendo o dinheiro, o crédito, a população compra menos e força a queda de preços em função da baixa demanda. Entretanto, é uma teoria controversa.
É o que explica Pedro Raffy Vartanian, professor Doutor do Mestrado Profissional em Economia e Mercados e da Graduação em Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Para ele, a taxa de juros no atual patamar terá efeito apenas na inflação de 2024 e o objetivo do Banco Central do Brasil é justamente levar a inflação para o centro da meta.
“É o princípio fundamental de um regime de metas para a inflação. Apesar de estar perdendo força, as expectativas para a inflação estão acima da meta e a manutenção da taxa de juros poderá garantir a convergência da inflação para a meta.”
Impacto no crédito para o consumidor
A taxa Selic é uma referência para linhas de crédito em geral, tanto para consumidor quanto para empresas. Quando os juros oficiais são elevados, as demais taxas seguem esta estratégia. Ou seja, os empréstimos ficam mais caros. Juros para compra da casa própria, do setor imobiliário, por exemplo, ficam altos. Isso acontece também para financiamentos para compra de carros e demais linhas para consumo. Também afetam juros do cartão de crédito, crédito direto ao consumidor e para correntistas, modalidades comuns em bancos e instituições financeiras.
Impacto no crédito para empresas e investimentos
O mesmo ocorre no crédito para empresas, nas diferentes modalidades. Desde linhas de fomentos em bancos públicos, até operações de crédito em bancos e instituições privadas para empresas. O custo do crédito impacta desde a formação de caixa das empresas até os empréstimos para elas fazerem investimentos, como ampliações da capacidade produtiva, compra de equipamentos e insumos.
Impacto no consumo
Vale destacar que crédito e consumo andam lado a lado. Quando os empréstimos e financiamentos ficam mais caros, consequentemente o nível de consumo tende a diminuir, pois o custo dos produtos e serviços aumenta também. Sendo assim, a tendência é de que uma elevação da Selic gere uma redução das compras. Na situação oposta – quando a Selic cai – o consumo costuma aumentar.
Atividade Econômica
Por fim, Pedro Raffy diz que o impacto de uma taxa de juros elevada se dá diretamente sobre a atividade econômica:
“Taxas de juros elevadas prejudicam a atividade econômica, ao passo que reduções na taxa de juros poderiam estimular a economia. Entretanto, entende-se que preços estáveis são importantes para um crescimento econômico sustentado e, diante disso, busca-se primordialmente o controle da inflação, ainda que isso acarrete custos indesejáveis de curto prazo em termos de redução do crescimento econômico.”
Isso se dá para redução de consumo via crédito, que fica mais caro.
*Foto: Reprodução/Unsplash (Josh Appel – https://unsplash.com/pt-br/fotografias/NeTPASr-bmQ)