Economista detalha como empresas podem conduzir negociações complexas em meio ao aumento recorde de processos no país.
O setor empresarial brasileiro enfrenta, em 2025, um cenário não muito amigável graças ao aumento expressivo no número de pedidos de recuperação judicial. Segundo dados da Serasa Experian, somente em abril deste ano, foram registrados 167 pedidos de recuperação judicial, totalizando 638 solicitações no acumulado do ano até o momento.
Esse crescimento é atribuído a fatores como juros elevados, inflação persistente e dificuldades de acesso a crédito, que impactam especialmente micro e pequenas empresas.
Estratégias de negociação em tempos de crise
Paulo Narcélio Simões Amaral, economista com experiência em processos de turnaround e finanças corporativas, destaca a importância de estratégias de negociação eficazes para empresas que enfrentam dificuldades financeiras. “Em tempos de crise, a transparência e a comunicação aberta com os credores são fundamentais. As empresas devem apresentar um plano de recuperação realista e bem estruturado, demonstrando comprometimento com a reestruturação e a geração de valor para todas as partes envolvidas”, afirma.
Ele enfatiza que a elaboração de um plano de recuperação deve considerar a realidade financeira da empresa, incluindo análise de fluxo de caixa, reestruturação de dívidas e revisão de processos operacionais. “É essencial que as empresas adotem uma abordagem proativa, buscando soluções que atendam tanto aos interesses dos credores quanto à viabilidade financeira da empresa”, acrescenta.
Impacto econômico e setores mais afetados
O aumento recorde de pedidos de recuperação judicial não é isolado. De acordo com reportagem da Revista Veja, a expectativa é que o número de processos alcance níveis inéditos em 2025, impulsionado pela elevação da taxa Selic, atualmente em 13,75%, e pelo crescimento da inadimplência entre empresas.
Setores estratégicos como telecomunicações, energia e logística estão entre os mais impactados, refletindo a necessidade de ajustes na gestão de dívidas e operações. Sem medidas de contenção e planejamento estratégico, muitas empresas podem enfrentar dificuldade de liquidez e risco de insolvência. Paulo Narcélio orienta que as empresas mapeiem seus riscos financeiros e operem com margem de segurança, antecipando problemas antes que se tornem críticos.
O papel dos credores e a importância da mediação
Os credores possuem um papel crucial no processo de recuperação judicial. O economista observa que, muitas vezes, os credores podem ser relutantes em aceitar propostas de reestruturação devido a preocupações com a recuperação de seus créditos. No entanto, Narcélio argumenta que uma abordagem colaborativa pode ser benéfica para todas as partes.
“Os credores devem entender que a falência de uma empresa pode resultar em perdas significativas para eles também. Portanto, é do interesse de todos buscar soluções que permitam a continuidade da operação e a recuperação dos créditos de forma gradual”, explica.
Nesse contexto, a presença de um mediador imparcial pode facilitar o diálogo entre as partes, ajudando a encontrar soluções que atendam às necessidades de todos os envolvidos, evitando disputas prolongadas que podem comprometer ainda mais a saúde financeira da empresa.
Sobre Paulo Narcélio
Paulo Narcélio Simões Amaral é economista formado pela UERJ (1984), com MBA em Finanças pelo IBMEC e especializações internacionais em Wharton (EUA), INSEAD (França) e Berkeley (Venture Capital). Com mais de três décadas de experiência em finanças corporativas, gestão de investimentos e administração de empresas, liderou empresas de telecomunicações, mídia, tecnologia e energia, incluindo TIM Nordeste, UOL e Dommo Energia. Atualmente, é conselheiro empresarial e atua em processos de reestruturação e turnaround.
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