Marcos Menezes, que é diretor radiologista do Hospital Sírio Libanês, esteve no Alto Xingu (MT) e no interior do Pará, e conta que gestantes que nunca fizeram pré-natal chegaram a perguntar se era possível mesmo saber o sexo do bebê antes do nascimento
Na semana passada, foi lançado o oficialmente o projeto OpenCare 5G, iniciativa do Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas de São Paulo. A ideia é montar pilotos para uso da tecnologia com aplicação de saúde conectada. Como parte da demonstração, a equipe utilizou uma rede privativa na faixa de 3,5 GHz usada para a realização de exames de ultrassom, com envio de imagens em tempo real, seja em outro ponto de um hospital ou em outra cidade, por exemplo. E sem falhas na transmissão ou demora. Isso só é possível por causa da tecnologia 5G, que até 100 vezes mais rápida do que o 4G. E também porque a rede é exclusiva do hospital.
De acordo com Giovani Cerri, presidente da iniciativa InovaHC:
“A partir do momento que o piloto comprovar que o sinal 5G vem em tempo real, nós vamos passar a utilizar isso em teleconsultas e monitoramento de pacientes que nós fazemos à distância, até um dia podermos fazer uma cirurgia estando um médico num lugar e o paciente sendo operado em outro lugar.”
Tecnologia 5G nas comunidades distantes
Os responsáveis pelo projeto dizem que o 5G vai permitir que o atendimento de saúde chegue a locais de difícil acesso. Neste caso, o médico poderá acompanhar o paciente a quilômetros de distância. Além de exames, também será possível fazer até cirurgias de modo remoto no futuro.
Como o plano é atender comunidades distantes por meio desta tecnologia, meses atrás, o médico Marcos Menezes, diretor de radiologia intervencionista do ICESP e Hospital Sério Libanês, foi pessoalmente ao Alto Xingu no Mato Grosso e ao interior do Pará, como integrante do projeto piloto. Nessas localidades, ele atendeu mulheres grávidas que nunca tinham feito o pré-natal.
Menezes revelou que perguntava se as gestantes queriam saber o sexo do bebê antes e que essas mulheres questionavam se realmente era possível. Em entrevista ao G1, ele complementou:
“É como uma coisa que pra nós, que vivemos em grandes centros é tão tranquilo, e como pra essas pessoas o acesso a essa tecnologia parece uma coisa tão mágica, tão fora de contexto.”
ade do 5G torna possível “acessar o especialista aqui em São Paulo”. Ou seja, a pessoa que está longe do hospital poderá se conectar e receber ajuda e até mesmo a “segunda opinião de um especialista aqui em São Paulo”.
Visita periódica
No primeiro semestre, Marcos Menezes esteve também no Amazonas, como integrante de um projeto da ONG Zoé, que leva um grupo de médicos que faz visitas periódicas às comunidades ribeirinhas. Ele explica que com este projeto foi possível realizar exames de ultrassom a bordo do barco Abaré, que atua como um posto de saúde fluvial, e que atende às populações ribeirinhas no rio Tapajós, especialmente exames de abdome em gestantes.
Como funciona a tecnologia de Open RAN
O projeto traz a tecnologia de Open RAN, em que a empresa japonesa NEC atua como integrante. Neste caso, em razão da arquitetura desagregada é que foi possível a iniciativa conseguir retomar o OpenCare 5G. Vale lembrar que o prazo original da primeira fase do OpenCare da quinta geração móvel era para março deste ano. Entretanto, segundo o CTO Latam da NEC, Roberto Murakami, explicou em coletiva de imprensa da semana passada, a crise mundial na cadeia de fornecimento de semicondutores gerou um impacto. Sendo assim, houve atrasos na compra de equipamentos. Mas, tal característica de inovação acabou por trazer o elemento ao projeto.
Além disso, esses atrasos também possibilitaram utilizar rádios alternativos. Isso porque a arquitetura de rede de acesso aberta traz essa característica, pontua a coordenadora do programa, Marcia Ogawa, da Deloitte:
“Com hardware de prateleira, se não estávamos conseguindo pegar de primeira, então pegamos outro.”
A empresa de consultoria convidou os parceiros, como a ABDI e o TIP, para participar do projeto, como financiadores. Enquanto isso, o Hospital das Clínicas entrou com o “capital intelectual”. Marcia ressaltou também que:
“Hoje tem o funding das empresas para montar o piloto e colocar o projeto funcionando. O BID também vai ter o seu papel, estamos negociando, mas nesta fase ainda não financiou.”
Coordenação do projeto
O projeto é coordenado pela Deloitte e tem a participação do Itaú Unibanco, Siemens Healthineers, NEC, Telecom Infra Project (TIP), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
Por fim, o próximo passo é treinar profissionais de saúde para trabalhar com a nova tecnologia e implementar as consultas à distância gradativamente no ano que vem.
Confira abaixo algumas imagens do projeto realizado em comunidades do Alto Xingu: