A transformação digital tem redesenhado o cuidado em saúde no Brasil, e a atenção primária vem sendo uma das áreas mais impactadas por esse avanço. Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 80% dos problemas de saúde poderiam ser resolvidos nesse nível de atendimento, justamente o mais beneficiado por soluções digitais, que tornam o acompanhamento contínuo, ampliam o acesso e reduzem custos.
O cardiologista e gestor Hans Dohmann, diretor médico da Stone e idealizador do Hospital Virtual Verde, explica que o uso de tecnologias na saúde não deve ser entendido apenas como uma modernização dos processos, mas como uma mudança estrutural na forma de cuidar. “Os aplicativos e plataformas digitais conectam o paciente ao sistema de saúde, não apenas na hora da consulta, mas em todo o percurso do cuidado”, afirma.
A tecnologia como ponte
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), falhas estruturais nos sistemas de saúde e a sobrecarga hospitalar têm impulsionado uma nova visão: hospitais e unidades devem atuar de forma integrada à atenção primária, apoiando o cuidado domiciliar e comunitário.
É essa lógica que inspira o conceito de Hospital Virtual ou CHEVO (Corporate HEalth Value Office), desenvolvido por Dohmann. O modelo combina atendimentos on-line e presenciais de forma coordenada, integrando todos os níveis do sistema, da promoção da saúde à alta hospitalar.
“A ideia não é substituir o atendimento presencial, mas complementá-lo, garantindo que o cuidado seja contínuo e coordenado, independentemente do local onde o paciente esteja”, explica Hans.
O perfil do paciente digital
Um levantamento da Associação Paulista de Medicina (APM) mostra que 78% dos brasileiros já utilizam algum serviço digital de saúde, e 67% dos pacientes preferem manter o acompanhamento remoto em situações de rotina. Essa tendência reflete uma mudança de comportamento e reforça a importância de soluções digitais que ofereçam conveniência, segurança e continuidade do cuidado.
O Ministério da Saúde também tem apostado em iniciativas semelhantes. O Programa Conecte SUS e a estratégia Saúde Digital Brasil ampliaram a interoperabilidade de dados, permitindo o compartilhamento de informações clínicas e o monitoramento remoto de pacientes em todas as regiões do país.
Integração entre saúde física e emocional
O modelo proposto por Hans Dohmann também abrange a saúde mental, uma das áreas mais impactadas positivamente pela digitalização. Equipes virtuais multidisciplinares realizam atendimentos on-line, orientam líderes e acompanham colaboradores de forma coordenada.
De acordo com o médico, a abordagem digital facilita o acesso a serviços de apoio psicológico e emocional, reduz o estigma e melhora os resultados clínicos. “A saúde emocional é parte essencial da atenção primária. O digital permite acolher o paciente no momento certo, mesmo à distância”, afirma.
Eficiência e sustentabilidade do sistema
Além do impacto direto na experiência do paciente, a digitalização também traz ganhos para a sustentabilidade dos sistemas de saúde. A experiência mostra que processos bem estruturados e o uso estratégico de dados são determinantes para manter o equilíbrio financeiro.
“O segredo não está apenas na tecnologia, mas na eficiência dos processos e na escolha dos dados certos para cada etapa do cuidado”, explica o especialista.
O modelo também elimina a necessidade de contratar serviços externos, como gestão de ambulatórios ou programas de saúde mental, concentrando as operações em um único ecossistema coordenado.
Um novo paradigma para a atenção primária
Para Dohmann, o futuro da saúde passa por um modelo híbrido, em que o digital amplia a capacidade da atenção primária de resolver casos e monitorar pacientes crônicos, reservando o atendimento presencial para situações que realmente exigem intervenção direta.
“A atenção primária digitalizada é o caminho para um sistema de saúde mais acessível, humano e sustentável. Ela aproxima o paciente do cuidado, promove autonomia e permite que os recursos sejam utilizados de forma mais inteligente”, conclui.
Sobre Hans Dohmann

Hans Dohmann é médico cardiologista, mestre pela UERJ e doutor pela UFRJ. Atuou como pesquisador, gestor público e executivo na saúde privada. Foi diretor do Hospital Pró-Cardíaco e do Instituto Nacional de Cardiologia, além de secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro entre 2009 e 2014, período em que liderou a maior expansão da rede de atenção primária já realizada na cidade. Atualmente é diretor médico da Stone, onde lidera o desenvolvimento do Hospital Virtual Verde, modelo inovador de gestão populacional e cuidado digital em saúde.




