O tema de doenças cerebrais fez parte da especialização da pesquisadora Mariana do Amaral, especialmente as doenças chamadas priônicas
Graduada em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mariana Juliani do Amaral, onde também se titulou mestre e doutora em Química Biológica e Ciências Farmacêuticas, respectivamente. No doutorado, como bolsista do Programa Institucional de Internacionalização (PrInt) da CAPES, teve a oportunidade de cursar um período da formação no Centro Alemão de Doenças Neurodegenerativas, em Berlim.
A pesquisadora, que desde o ensino médio já almejava ser cientista, estudou as doenças chamadas priônicas e buscou entender as causas e fatores de risco que levam a principal proteína ligada a essas enfermidades a assumir uma forma anormal, em que vira um gel ou sólido, nos neurônios, resultando em sua morte.
Como agem as chamadas proteínas príon em doenças cerebrais?
Em relação a possíveis doenças cerebrais, as células humanas e de animais possuem cerca de 20 mil proteínas. Existe uma proteína chamada príon, que tem a capacidade única, anormal, de formar aglomerados que se espalham pelo cérebro e são infecciosos. Por sua vez, a proteína príon desempenha diversas funções cerebrais, incluindo auxílio à comunicação entre os neurônios e à consolidação de memórias. No entanto, ela é capaz de se transformar e agregar nos neurônios em um formato sólido e irreversível. Tal processo acontece no caso de doenças priônicas ou encefalopatias espongiformes transmissíveis, que são fatais e não possuem tratamento.
O que são as chamadas doenças priônicas?
Estima-se que a cada três segundos uma pessoa no mundo desenvolve demência, que afeta 55 milhões habitantes do planeta. Neste caso, as doenças priônicas causam demência e, apesar de raras, apresentam muitas similaridades com o Alzheimer e o Parkinson, que são as doenças neurodegenerativas mais comuns. O maior fator de risco para desenvolvimento dessas doenças é o envelhecimento e não há tratamentos efetivos para impedir sua progressão. No caso do Alzheimer e Parkinson, cada vez mais aparecem métodos eficazes de tratamento. É o caso do método de Indução de Proteínas de Choque Térmico, desenvolvido pelo médico brasileiro, radicado nos Estados Unidos, Marc Abreu. A técnica abrange melhoria dos movimentos para quem possui Parkinson, por exemplo.
Pesquisa da cientista
Já a cientista Mariana Juliani do Amaral procurou compreender as causas e fatores de risco que predispõem esta proteína a adotar uma forma anormal relacionada à neurodegeneração. “Identifiquei que íons de cobre e o estresse oxidativo influenciam diretamente a formação de condensados e a agregação da proteína príon. Meu projeto de doutorado reuniu importantes peças do quebra-cabeça da fisiopatologia da proteína príon ajudando na compreensão da sua função, homeostase do cobre, estresse oxidativo e o mecanismo de transformação para sua forma anormal”, esclarece Mariana.
O trabalho, publicado na revista Science Advances, descreve um mecanismo possível para a agregação da proteína príon por meio de condensados dinâmicos (análogos a gotículas líquidas), formados na presença de cobre, que podem evoluir a sólidos irreversíveis na presença do estresse oxidativo. Além disso, o estudo abre a possibilidade de utilizar estes condensados como potenciais alvos para desenvolvimento de terapias para que se impeça sua transformação em sólidos não funcionais e, por sua vez, prevenir a neurodegeneração.
Contribuição para a sociedade
Por fim, segundo Mariana, estes achados podem auxiliar no entendimento dos mecanismos de desenvolvimento das doenças priônicas e de outras demências e doenças do envelhecimento relacionadas a neurodegeneração. Uma característica comum em todas é a presença de agregados proteicos, desbalanço da homeostase de íons metálicos e estresse oxidativo, temas que foram profundamente estudados na minha tese.
*Foto: Reprodução/https://br.freepik.com/fotos-gratis/fundo-medico-3d-com-destaque-do-cerebro_4619833.htm#query=doen%C3%A7a%20neurodegenerativa&po