Embraer fecha financiamento em que metade dos recursos virão do BNDES, via contrato que não é considerado um socorro estatal tradicional
Nesta segunda-feira (15), a Embraer informou o fechamento de um contrato de financiamento de exportações de até US$ 600 milhões (R$ 3,1 bilhões), com prazo de até quatro anos.
Apesar de não ser um socorro clássico, a operação teve uma grande ajuda do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financiará metade do valor e o restante será por meio de um consórcio de banco (50% estatal, 50% privado).
A Embraer fecha financiamento com sensação de dar um respiro em meio a uma grande crise do setor aéreo gerado pela pandemia de Covid-19 e também após o fracasso do acordo entre e a Embraer e a gigante Boeing, anunciado em abril. À época, empresa americana alegou que a companhia brasileira descumpriu detalhes do acordo e decidiu desfazer as negociações.
A Embraer nega tal fato, e apontou a grave crise financeira da Boeing como o motivo e abriu um processo de arbitragem nos Estados Unidos para tentar reaver parte de seus gastos com o processo (R$ 87 milhões só neste ano), além das multas que acha que lhe são devidas.
No primeiro trimestre de 2020, a empresa registrou um prejuízo de R$ 1,3 bilhão, creditando o resultado à finalização de detalhes do acordo com a Boeing, que gerou a paralisação da produção em janeiro, e ainda à pandemia de coronavírus que desorganizou todo o mercado aéreo.
Financiamento de capital de giro para exportações
A operação em si não é um socorro estatal tradicional, como que está sendo avaliado pelo BNDES para as empresas aéreas brasileiras Gol, Azul e Latam, que devem lançar debêntures conversíveis.
Trata-se de financiamento de capital de giro para exportações, na modalidade de pré-embarque, com taxas de juros de mercado, afirma a empresa.
O objetivo é dar um sinal de retomada, já que no mundo todo há cancelamentos de encomendas de companhias aéreas em função da crise gerada pela pandemia, que diminuiu em alguns momentos o tráfego de passageiros em 90% na Europa e nos EUA.
No entanto, a Embraer diz que até o momento só alterou datas de entregas e que não perdeu nenhum negócio para a Covid-19.
Em seu caso, por trabalhar com aviões de menor capacidade (jatos regionais), coloca a empresa em uma boa posição quando acontecer a retomada do setor, que não deve alcançar os níveis de 2019 em menos de cinco anos, segundo média das previsões.
Parceria externa
Após ter sua linha comercial reintegrada ao restante da companhia nos próximos meses, a expectativa da Embraer é trabalhar por uma associação com outra parceria externa.
Vale lembrar que entre o final de maio e início de junho, a Embraer atraiu interesse de outras companhias estrangeiras, como a chinesa COMAC. No rol de interessadas também aparecem Índia e Rússia.
Todo o processo será conduzido pelo executivo Arjan Meijer, que cuidava de estratégia de vendas da área. Ele foi anunciado também nesta segunda como substituto de John Slattery, que comandava a área de aviação comercial, mas que saiu para se tornar presidente da americana GE Aviation.
Meijer era o braço-direito de Slattery desde 2016, o que significa uma sinalização de uma transição sem ruptura.
Fonte: Folha de S. Paulo
*Foto: Divulgação