Americanas tem ação em leilão desde a abertura do mercado, e chegou a indicar tombo de quase 90%
As ações da Americanas despencaram nesta quinta-feira (12) após a revelação na véspera de que o balanço da companhia pode ter um rombo de R$ 20 bilhões relativo a transações com bancos e fornecedores.
Ex-presidente da Americanas
Além disso, o ex-presidente da Americanas Sergio Rial, que assumiu em 2 de janeiro e ficou apenas 9 dias no cargo, antes de renunciar na véspera, participou de uma conferência fechada na manhã desta quinta-feira (12). Ele citou que os problemas decorrem de diferenças de contabilização do custo financeiro de dívida bancária em relação à dívida com fornecedores.
Posição da empresa
No entanto, a Americanas não se manifestou sobre o assunto desde que divulgou o fato relevante sobre a descoberta de “inconsistências contábeis”. A ação da empresa está em leilão desde a abertura do mercado, e chegou a indicar tombo de cerca de 90%.
De acordo com Rial, a falta de transparência em relação à classificação de operações de “risco sacado”, uma antecipação de recebíveis dos varejistas junto aos bancos, como dívida bancária, é algo que permeia este setor da economia nacional “desde a década de 1990”.
Dois processos
Por outro lado, diante do escândalo, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu nesta quinta, dois processos para investigar a companhia. Um dos processos tem como alvo a própria contabilidade da empresa. Enquanto isso, o outro vai tratar da forma tumultuada como a empresa divulgou os problemas ao mercado.
Em sua declaração, transmitida apenas em parte pelo canal do BTG Pactual no YouTube, o executivo disse que identificou “sinais de que talvez o nível de transparência e talvez a vontade da própria gestão em querer falar de problemas e desafios não estivesse tão fluída na organização como deveria”.
Capitalização
Apesar de tudo, o tom da fala foi e ocorreu até algumas brincadeiras durante a sua apresentação no BTG Pactual, um dos credores da Americanas. Na ocasião, Rial tentou mostrar que a varejista ainda é viável. Porém, ressalvou que a empresa precisará de um aumento de capital significativo, sem fazer projeções sobre a dimensão do aporte que os acionistas terão de fazer após o escândalo.
“Ninguém definiu um número. Ninguém tem a menor dúvida de que não será de milhões… Tão longo a gente tenha (clareza sobre a situação) a gente vai definir o que é necessário. O que é importante agora é manter a empresa funcionando.”
Neste caso, ele segue sendo assessor dos acionistas de referência da Americanas, que incluem os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
A varejista disse na véspera, que embora não consiga determinar todos os impactos no balanço neste momento, acredita que “o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”. Rial afirmou que no curto prazo não vê impacto no caixa da companhia, mas citou que isso é se os bancos credores da empresa “não decidirem acelerar a dívida, aí vai ser historia judicializada”.
Caixa da empresa
Atualmente, a companhia possui em torno de R$ 9 bilhões em caixa e que poderá gerar um lucro operacional medido pelo Ebitda de R$ 1,5 bilhão a R$ 1,7 bilhão “neste ano”, ante R$ 3,3 bilhões em 2021. Já a dívida bruta de quase R$ 30 bilhões é de longo prazo em sua maior parte, disse o executivo.
“Vai ter um capex (investimento) menor, vai ser capaz de gerar mais capital de giro do que em 2022, não vai ser capaz de pagar despesas financeiras em sua totalidade e portanto vem aqui a necessária infusão de capital.”
Rial incluiu ainda que entre as opções há um “movimento estratégico” que poder abrir “oportunidade para redesenhar algumas coisas no setor”.
Ao ser questionado se os R$ 20 bilhões estão fora do balanço, Rial negou, afirmando que até “onde pode ver” durante os dias em que foi presidente-executivo “todas as dívidas foram pagas, os fornecedores foram pagos”.
A título de referência, o patrimônio líquido da companhia no fim de setembro era de R$ 14,7 bilhões.
A Americanas anunciou a indicação de Otávio Yazbek, Vanessa Claro Lopes e Pedro Melo para compor um comitê independente encarregado de apurar o rombo contábil.
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Revisão das corretoras
Uma série de corretoras colocou as recomendação das ações da varejista em revisão desde a noite de quarta-feira (11).
Por exemplo, a equipe do Bradesco BBI classificou o episódio como “inconsistência contábil considerável e sem precedentes” e considerou a notícia “bastante negativa”.
Por sua vez, a XP Investimentos citou que a saída de Rial, que enxergava como pilar importante para sustentar o processo de transformação, representa um risco para a tese de investimento na empresa, enquanto o escândalo contábil pode implicar maior alavancagem e riscos de processos judiciais nos Estados Unidos.
Já o Citi considerou que “claramente, este ainda é o começo de uma longa e complexa história”. O Morgan Stanley retirou a recomendação “overweight” para as ações da Americanas.
Por fim, para a BB Investimentos, as chamadas operações de risco sacado são comuns no setor varejista e a transparência das informações divulgadas pode variar de companhia para companhia.
*Foto: Reprodução